Análise: Últimas pesquisas reforçam tendência de polarização entre Bolsonaro e Haddad
Brasília, 21 set (Xinhua) -- As pesquisas de intenção de voto divulgadas nos últimos dias pelos institutos Ibope e Datafolha confirmaram a tendência a uma polarização na corrida presidencial brasileira entre o candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL) e Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Faltando pouco mais de duas semanas para o primeiro turno do dia 7 de outubro, Bolsonaro e Haddad são os únicos candidatos ao Palácio do Planalto que mostram uma trajetória de crescimento constante.
Na pesquisa do Ibope, divulgada na noite da terça-feira, Bolsonaro tinha 28% das intenções de voto e Haddad,19%, enquanto que na pesquisa da Datafolha, divulgada na noite desta quarta-feira, Bolsonaro aparece também com 28% e Haddad com 16%.
Além disso, os eleitores de Bolsonaro e Haddad são os mais convictos, com 75% de seus votos consolidados em ambos os casos.
O único dos outros candidatos que parece com chances de disputar um lugar no segundo turno é Ciro Gomes, do Partido Trabalhista Democrático (PDT), que alcançou 11 e 13%, respectivamente, empatando no Datafolha com Haddad, dentro da margem de erro.
Outros candidatos que tinham possibilidades de participar da disputa, como o ex- governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB), e a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, sofreram uma queda que parece lhes ter tirado da competição.
Alckmin está estacionado entre 7 e 9% das preferências, e Marina Silva caiu para 6 a 7 %, menos da metade do que tinha no início da campanha.
O cenário de polarização favorece o surgimento do "voto útil" para um ou para o outro lado, com Bolsonaro atraindo o voto anti-PT e Haddad o setor do eleitorado que rejeita o extremismo do ex-capitão do exército.
O avanço de Bolsonaro se combina com uma gradual fuga de votos dos outros candidatos de corte conservador e liberal.
Além dos que votariam em Alckmin, podem ir nessa direção os eleitores do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, do governista Movimento Democrático Brasileiro, do empresário João Amoêdo, do Partido Novo e do ex-senador Álvaro Dias, do Podemos.
Se essa tendência aprofunda, será a primeira vez em 25 anos que o PSDB não chegará ao segundo turno, o que revela um giro do eleitorado de tradicionais opções de centro para posições mais extremas. O fenômeno levou diversos analistas a especular sobre a possibilidade de uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno.
Segundo a legislação brasileira, para ser eleito no primeiro turno, um candidato para ser eleito no primeiro turno precisa de maioria absoluta, ou seja, mais da metade dos votos válidos (excluindo brancos e nulos).
Pelos números surgidos nas pesquisas mais recentes, para que isso acontecesse, Bolsonaro teria que crescer entre 22 a 24 pontos percentuais. Isso significa que o candidato da extrema direita terá que conseguir capturar mais de 60% dos votos que atualmente vão para outros candidatos de centro direita, algo que se mostra improvável em um prazo de apenas duas semanas.
Haddad, por sua vez, mantem o ritmo de crescimento desde 11 de setembro, quando foi confirmada sua candidatura, em substituição a ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso desde abril, condenado por suposta corrupção.
Como Lula tinha cerca de 40% das intenções de voto, a expectativa de Haddad é continuar "herdando" a transferência de votos e atrair também os eleitores que se inclinam por Ciro Gomes, de perfil igualmente de centro-esquerda.
O candidato do PT cresceu mais de 10% em apenas uma semana, ganhando adeptos em todos os grupos sociais, enquanto Bolsonaro se consolida entre o eleitorado de maior renda.
Outro fenômeno que deve ser seguido de perto é a alta percentagem de votos brancos e nulos, que chegam a 14%, segundo o Ibope e a 12% segundo Datafolha, enquanto os indecisos somam 7% e 5%, respectivamente.
Os números superam os das três últimas eleições gerais a esta altura da campanha, revelando a rejeição à classe política como consequência dos múltiplos escândalos de corrupção e de uma severa crise econômica que ainda não foi revertida.
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